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A ilusão do ‘de-risking’: como a UE subestima o poder chinês

Atualizado: 19 de dez. de 2024


 

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, usou o termo “de-risking” para definir a abordagem da União Europeia (UE) em relação à China, no âmbito de uma estratégia mais ampla conhecida como “Estratégia de Segurança Econômica Europeia”, que tem três objetivos principais: (1) promover a competitividade da UE, (2) proteger sua economia e seus mercados e (3) estabelecer parcerias com países que compartilham os mesmos valores e a mesma visão de segurança econômica. 


Aplicada à China, essa estratégia visa priorizar as políticas comerciais europeias enquanto mantém relações diplomáticas saudáveis. No entanto, a UE enfrenta dificuldades por seus Estados-Membros terem vínculos bilaterais distintos com a China, com diferentes graus de dependência do país asiático. Como resultado, movidos por seus interesses nacionais, os países da UE abordam suas relações com a China de forma independente, enfraquecendo a coerência e a credibilidade da estratégia europeia. O exemplo da votação sobre as tarifas alfandegárias aplicadas aos veículos elétricos (VE) chineses demonstra claramente essa divisão interna, com 10 votos a favor, 12 abstenções e 5 votos contra, incluindo a Alemanha, um dos maiores fabricantes de veículos da Europa. 


Além disso, esse voto de alíquotas aduaneiras revela muito sobre a fraqueza da UE e suas percepções equivocadas sobre a China. A natureza imprevista e urgente dessas tarifas demonstra a atitude reativa da UE e a falta de antecipação e preparação diante da proatividade da China em mercados estratégicos de transição verde, nos quais a China já vem estabelecendo padrões na última década (painéis solares, veículos elétricos, ...). A estratégia de redução de riscos da UE parece se basear em suposições, em especial a ideia de que a China permaneceria passiva e aceitaria docilmente o afastamento gradual buscado pela União, deixando assim a UE no controle da forma futura de seu relacionamento. Contudo, essas percepções equivocadas e a falta de previsão aumentam a ameaça de um segundo choque da China, com produtos ligados à transição verde inundando os mercados mundiais, assim como aconteceu com os produtos manufaturados de baixa qualidade no início dos anos 2000.   


Por fim, a União Europeia deveria usar as recentes eleições como um novo início para repensar a sua abordagem com relação à China, avaliando corretamente sua dependência do país asiático, bem como a proatividade que o caracteriza nos mercados em que possui uma vantagem competitiva significativa. Por exemplo, a China poderia influenciar diretamente no aumento do preço dos veículos europeus, pois muitas peças são fabricadas no país. Além disso, será importante abordar as diferenças de posição entre os Estados-Membros sobre essa questão, assim como a resistência de determinadas empresas e autoridades nacionais que estão tentando impulsionar as relações com a China.  


Autor:


Victor Jaumouillé - Summer Job na BMJ Consultores Associados

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