A nova presidência dos Estados Unidos será definida em cenário acirrado e marcará o início de nova etapa das relações político-econômicas entre o Brasil e a potência norte-americana.
Os Estados Unidos estão a menos de um mês das eleições presidenciais. Após a oficialização de Donald Trump como o candidato do Partido Republicano, e de Kamala Harris pelo Partido Democrata, a corrida eleitoral começa plenamente e adentra em sua fase decisiva.
Os democratas se consolidam em torno de Harris e buscam manter o momento de confiança. Assim, Kamala tem sido melhor recebida pelo públicos jovem, negro e hispânico que seu antecessor. Além disso, sua atuação como procuradora-geral da Califórnia se contrapõe às recentes condenações de Trump. Um perfil complementar ao candidato à vice-presidência, governador Tim Walz, apoiado por lideranças da classe trabalhadora americana e com potencial para agradar parte da classe militar.
Os republicanos concentram a imagem do partido no ex-presidente Donald Trump. A escolha do senador J.D. Vance para pleitear a vice-presidência traz poucos elementos novos à chapa, mas visa agradar o eleitor médio estadunidense e promover um protagonista mais jovem para o Trumpismo. Além disso, o Partido Republicano tem utilizado as pautas de imigração e economia a seu favor. Temas caros para o eleitorado americano, a maior rigidez na política migratória, o controle da inflação e redução de impostos tem sido os trunfos apresentados por Trump em sua tentativa de retomar a presidência.
Para o Brasil, as eleições significarão importante definição para as relações político-econômicas com o segundo maior parceiro comercial do país. É importante observar uma possível continuação do isolacionismo de Trump, com menor participação em acordos internacionais e a ausência dos EUA em negociações de tratados comerciais. Ao lado de uma política isolacionista, Trump também reforçaria a guerra fiscal com a China, aumentando a atratividade para as indústrias americanas produzirem no país ou em nações aliadas. Dessa forma, além de encontrar menor alinhamento político com ator-chave no cenário global, o Brasil precisaria equilibrar a balança para manter relações estratégicas tanto com Estados Unidos quanto China – seu maior parceiro comercial.
Com a permanência do Partido Democrata no poder, espera-se que não haja interrupção da política econômica internacional na transição entre Joe Biden e Harris. Nesse cenário, deve ser observado um afastamento das negociações comerciais tradicionais, ao mesmo tempo de certa abertura para discutir acordos comerciais estratégicos e específicos, como os relativos à garantia do abastecimento de cadeias industriais sustentáveis. Ademais, investimentos liderados pelo governo democrata em países em desenvolvimento tenderiam a ser continuados. Com isso, em termos comerciais, mais brechas poderiam ser observadas pelo Brasil como oportunidades para aproximação com os Estados Unidos.
A eleição americana será uma das mais apertadas da história, com o resultado sendo decidido por pequenas cidades em Estados-Pêndulos. Na política externa brasileira, a atual gestão defende postura pragmática e conciliatória, principalmente em relação a relevantes atores. De tal forma, espera-se que busquem evitar retrocessos nos diálogos comerciais entre Brasil e Estados Unidos, independente a nova liderança americana.
Ao mesmo tempo, em caso de vitória de Trump, cabe atenção a ampliação da plataforma ideológica que se opõe aos ideais do governo brasileiro. Nesse cenário, o Brasil terá oportunidade de testar ainda mais sua influência, principalmente na América Latina, com a menor interferência externa visada por Trump. Por outro lado, com continuidade do governo democrata, o país também terá espaço para exercer posição de porta-voz no diálogo com os Estados Unidos sobre questões políticas e democráticas na América do Sul, no contexto de colaboração regional.
Autores:
Ana Beatriz Zanuni - Analista do Instituto Brasileiro de Comércio Internacional e Investimentos (IBCI) e consultora de Comércio e Política Internacional na BMJ Consultores Associados
Vito Villar - Consultor e Líder de Política Internacional na BMJ Consultores Associados
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