No próximo 2 de junho, mais de 97 milhões de cidadãos mexicanos escolherão a primeira presidente mulher, em um processo eleitoral sem precedentes em sua história política. Quais são os desafios que o novo governo enfrentará?
O México se encontra na reta final do maior processo eleitoral de sua história, com a renovação de cerca de vinte mil cargos públicos em todo o país, entre eleições federais e locais. Assim, não se trata apenas da eleição presidencial, mas também da renovação do Senado, da Câmara dos Deputados e dos governos de vários estados-chave.
Pela primeira vez na história do país, duas mulheres, Claudia Sheinbaum, do partido governante Morena, e Xóchitl Gálvez, da coalizão opositora Fuerza y Corazón, surgem como as principais candidatas para ocupar o cargo mais alto da nação. Este evento baliza um marco na democracia mexicana e reflete uma mudança significativa no cenário político do país.
A saída do atual presidente Andrés Manuel López Obrador (AMLO), que não pode ser reeleito devido às restrições estabelecidas pela Constituição, abre caminho para uma nova era na política mexicana com presença feminina e domínio de uma nova força política. É importante destacar que AMLO encerrará seu mandato em 1º de dezembro com uma aprovação de 70% graças à percepção de melhoria econômica e ao crescimento geopolítico na região. Essa percepção, reforçada durante seus anos de mandato, foi sentida principalmente pelo fortalecimento da moeda local e redução da pobreza.
No entanto, desafios importantes persistem, como a escalada da violência e a migração descontrolada, que obscurecem os marcos da gestão de AMLO. O processo eleitoral não tem sido isento de desafios e tragédias, em uma onda de violência que reflete as tensões políticas que permeiam o México. Enquanto a candidata de AMLO propõe manter a linha de políticas do governo atual (ao apresentar propostas voltadas para a população vulnerável, reformar o sistema judicial e desenvolver estratégias contra o crime organizado), a opositora Gálvez apresenta uma visão que aponta para maior apoio ao setor privado, além da manutenção dos programas sociais atuais e enfrentamento de grupos do crime organizado.
De acordo com as pesquisas mais recentes, Sheinbaum mantém uma vantagem de mais de 20 pontos sobre Gálvez, consolidando-se como favorita para vencer a disputa presidencial. O resultado dessas eleições não determinará apenas o próximo governo do México, mas também enviará uma mensagem poderosa sobre a capacidade das mulheres de liderar um país predominantemente masculino no campo político. As eleições poderiam determinar se o México pode voltar a um sistema de partidos dominantes, semelhante ao que o país experimentou sob o outrora hegemônico Partido Revolucionário Institucional (PRI), que permaneceu no poder ininterruptamente por 71 anos, de 1929 até o ano de 2000.
Já com relação às relações bilaterais entre México e Brasil, é possível afirmar que os dois países nunca foram muito próximos, à exceção de um curto período entre 2003 e 2014 quando alguns Acordos de Complementação Econômica foram assinados. Antes de assumir o cargo pela terceira vez, Lula chegou a visitar a Cidade do México em 2022 e encontrou-se com AMLO, momento em que uma perspectiva de reaproximação apareceu no horizonte. Em 2024, são comemorados os 190 anos das relações bilaterais entre os dois países, por isso também foi decretado que o biênio 2023-24 seria o “ano dual” entre as nações, buscando estreitar laços de amizade e parceria.
Todavia, ainda em 2023, o México decretou uma elevação tarifária de até 35%, expandida em 2024, que afeta diretamente os países que não possuem acordos de livre comércio com o país, caso brasileiro. Embora o Acordo de Complementação Econômica 54 (ACE-54) entre o MERCOSUL-México tenha previsão de criação de uma zona de livre comércio, esse objetivo nunca foi concluído. De qualquer forma, embora as tentativas de expansão do Acordo de Complementação Econômica (ACE-53) tenham sido falhas, é demonstrado que embora a nível executivo tenha havido uma tímida reaproximação entre os países nos dois últimos anos, as trocas comerciais tiveram exponencial crescimento com medidas de combate à inflação no México.
Autores:
Maria Isabel Lopez - Consultora de Política Internacional na BMJ Consultores Associados
Vito Villar - Líder de Política Internacional e Consultor de Comércio Internacional na BMJ Consultores Associados
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