Javier Milei é um candidato que tem surfado na indignação de boa parte da parcela da população argentina sobre um projeto de país que não foi alcançado ou que foi frustrado, uma promessa que não foi cumprida. O mesmo ocorreu com Macri em 2015 e Alberto Fernández em 2019. Para James Jasper3, as emoções encorajam e motivam as pessoas a participarem de ações coletivas. Líderes e organizações políticas também recorrem às emoções para mobilizar e recrutar seus fiéis por meio de de discursos, imagens e narrativas que evocam emoções. O voto é uma manifestação sobre determinada realidade social, mas também algo suscetível às emoções. A raiva, indignação, solidariedade e outras, estão presentes na hora de decidir o futuro de uma nação e o triunfo de Javier Milei não é diferente. Mas, quais os impactos de um eventual governo Milei sobre o Mercosul e nas relações Brasil-Argentina?
O ultraliberal também já realizou diversas críticas ao MERCOSUL. O bloco já está em um contexto fragilizado e luta pela assinatura do acordo com a União Europeia. A possível vitória de Milei poderia ser um novo obstáculo para o fortalecimento do MERCOSUL, como defende o Brasil e, com isso, espera-se uma nova fase de antinomia entre as duas maiores economias da América do Sul e dificuldades em avanços na integração regional.
Apesar das suas críticas, o contexto econômico da Argentina não possibilitaria uma ruptura tão brusca como Milei pretende. O Brasil é o principal parceiro comercial argentino e grande parte do fluxo comercial é potencializado pela área de livre comércio proporcionada pelo MERCOSUL. Bolsonaro levantou a mesma bandeira durante sua campanha, mas certos discursos eleitorais não sobrevivem à política real. Além disso, a saída do MERCOSUL também precisaria de apoio no Congresso argentino e, ao que tudo indica, Milei pode enfrentar dificuldades na governabilidade. Além disso, o MERCOSUL pode ser uma das ferramentas que auxiliarão a recuperação econômica argentina.
Apesar das diferenças ideológicas entre Milei e Lula, espera-se uma relação Brasil-Argentina mais pragmática e intermediada por atores mais técnicos, ainda que possa enfrentar engessamentos em determinados temas. Em um mundo globalizado, a modernização e o diálogo possibilitam a superação das diferenças em nome de um bem comum, o que deve ser prezado, independentemente das ideologias predominantes no espaço e tempo.
Autores:
Bruna Rizzolo - Consultora de Comércio Internacional na BMJ Consultores Associados
Nicholas Borges - Consultor de Inteligência e Análise Política na BMJ Consultores Associados
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